sexta-feira, 15 de março de 2013

Deus lança longe de si o pecado do passado


Nas três leituras deste final de semana, encontramos o tema da libertação do passado. “No mais penseis nas coisas anteriores, não mais olheis o passado. Eis que faço algo novo; já está brotando. Não o enxergais? (Is. 43,18; 1ª leitura). Na visão do profeta acontecem um novo paraíso e um novo êxodo ao mesmo tempo, um caminho no deserto e os animais cantando o louvor de Deus: Israel volta do Exílio (Is. 43,19-20). O povo proclama o que Deus fez (43,20): “Quando o Senhor reconduziu os exilados de Sião, parecia um sonho” (Sl. 126(125);salmo responsorial).

“Eu esqueço o que fica atrás de mim e me estico para acatar o que tenho diante de mim”(Fl. 3,13; 2ª leitura): reflexão de Paulo, sempre mais próximo da morte (está na prisão) e de seu porto desejado. Pois diante dele está Cristo, que o salvou. Atrás dele fica uma vida de fariseu, que ele considera como esterco (3,8), porque o afastou da verdadeira justificação em Cristo Jesus. De fato, enquanto era fariseu, pretendia justificar-se a si mesmo pelas obras da Lei. Só depois que Cristo o “alcançou”, descobriu que a justiça vem de Deus, que, em Cristo, concede sua graça aos que crêem. Para Paulo, conversão é bem outra coisa que voltar a viver decentemente – o bom propósito da Quaresma! É quase o contrário (pois, como fariseu, ele vivia “decentemente”). É deixar Deus estabelecer em sua vida uma nova escala de valores, tendo por centro um crucificado. Será que, para nós, o centro de nossa vida é o Crucificado ou apenas um crucifixo de ouro e marfim? Cristo pregou na cruz toda a auto-suficiência humana, para que acontecesse, sem empecilhos, a obra da graça de Deus. Será que nós crucificamos nossa auto-suficiência, nossa vontade de “nos recuperar” em vez de nos perder nos braços do Crucificado?

Quem já perdeu tudo tem maior facilidade para isso. O evangelho de hoje (um fragmento solto inserido no evangelho de João) nos apresenta uma pessoa que não tinha mais nada a perder senão a vida; e esta também já estava quase perdida, os “justos” já estavam com as pedras na mão para a apedrejar. Ela tinha sido apanhada em adultério! (Como ainda entre nós, hoje, também na antiguidade judaica o homem podia ter suas aventuras, a mulher, porém, não.) Os “justos” pedem a opinião de Jesus, pois tinha fama de liberal, e queriam apanhá-lo em contradição com a Lei. Jesus escreve algo na areia; a acusação, a sentença? Não o sabemos. E responde: “Quem não tem culpa, lance a primeira pedra”. E volta a escrever na areia. Os “justos” vão embora, a começar pelos mais velhos. (Espontaneamente, pensamos naqueles anciãos de Dn. 13, que, depois de ter acusado Suzana, tiveram de mostrar quanta hipocrisia e podridão a velhice tinha acumulado neles.) “Mulher, ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e não peques mais”. O passado foi apagado, como as palavras na areia. Ela é nova criatura: de pecadora, tornou-se a que não peca mais. Se tivesse sido apedrejada, seria para sempre a pecadora apedrejada. Agora, ela é a “não mais pecadora”. Mas, para isso, era preciso que seu pecado fosse apagado; e isso, só Deus o podia fazer.
Procuremos reconhecer em nós esta experiência de Israel, de Paulo, da adúltera, a experiência de sermos estabelecidos em condições novas, por exemplo, por uma autêntica confissão (com restituição de injustiça cometida e todas as demais exigências). Notaremos que não fomos nós, que nos libertamos, mas a graça de Deus, pelo sinal eficaz de Cristo. Mas essa renovação pode chegar também por outros caminhos. Por um convite de participar numa comunidade que nos coloque num novo ambiente, numa nova solidariedade. Há muitas maneiras para Deus realizar sua nova criação. Demos-lhe uma chance.
Johan Konings "Liturgia dominical"

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